quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

MESTRE FELIPE GANHARÁ BIOGRAFIA

Homem simples e de grande sabedoria, Felipe Neres Figueiredo, o Mestre Felipe, um dos maiores mestres de tambor de crioulas do Maranhão, terá parte de sua biografia eternizada no livro Mestre Felipe por ele mesmo de autoria dos pesquisadores culturais, Marco Aurélio Haickel e de Sérgio Luís da Costa. A obra é fruto de entrevistas realizadas dos autores em parceria com Azziz Jr.


Natural do povoado Taboca, município de São Vicente Férrer, Mestre Felipe que nasceu em1924 começou a tocar tambor aos três anos de idade e fez dele a sua filosofia de vida. Segundo Marco Aurélio Haickel, o livro surgiu da necessidade de registrar os ensinamentos de Mestre Felipe. Com a idade avançada, a saúde meio comprometida, os três aprendizes idealizaram um projeto onde Mestre Felipe pudesse contar a sua história de vida e seus ensinamentos sobre a arte do tambor de crioula que ele aprendeu com seus antepassados. "Quando o Mestre comemorou seus 80 anos no anos de 2005, percebemos que não havia nada registrado sobre a sua vida e seus conhecimentos. O que identificamos foram algumas reportagens de jornais impressos que não davam a dimensão e o aprofundamento de sua importância como referência cultural. Toda informação era oral. Nesse momento nos reunimos e resolvemos fazer uma série de entrevistas gravadas em vídeos que foram decupadas e transformada no livro", explicou Marco Aurélio Haickel.

Com um roteiro previamente definido, os três amigos realizaram dezenas de entrevistas onde Mestre Felipe contou de tudo um pouco, como a sua iniciação no tambor de crioula; a lida dura do trabalho na lavoura e na pesca; a iniciação no bumba meu boi, e outras curiosidades que só quem conviveu com Mestre Felipe teve a oportunidade de conhecer."Esquadrinhamos um roteiro. Muito embora nós tivéssemos isso muito bem definido, deixamos ele muito a vontade para tocar nos assuntos que ele queria falar. Ele era uma pessoa muito expressiva e de inteligência rara. Para extrairmos essas informações que constam tanto no vídeo quanto no livro tivemos que fazer este cabedal de perguntas para termos acesso às informações sobre a vida dele", contou Haickel. Entre as tantas histórias colhidas pelos autores do livro, uma que chama atenção são as fugas de Mestre Felipe e seu irmão durante as madrugadas para participar das rodas de tambor. Para que o pai e a mãe não desconfiasse da sua saída, ele e o irmão colocavam os pilões de socar arroz para fingir que eles estavam dormindo. "O pai de Mestre Felipe acordava de madrugada falando para esposa que Mestre Felipe não estava dormindo e sim tocando tambor de crioula. Ele reconhecia a batida feita pelo Mestre e seu irmão, e ia até a sua rede para comprovar se ele estava lá ou não. E descobria sempre", revelou Marco Aurélio Haickel.

Homem sábio por natureza, Mestre Felipe herdou de seus pais o amor pela cultura popular. Apesar do pai ser também envolvido como tambor, sua mãe foi a sua maior influência, contou Marco Aurélio Haickel. O pesquisador acrescentou que a sua avó conhecida como Nhonhezia que detinha uma liderança muito forte dentro da comunidade foi outra referência muito forte para Mestre Felipe. Ele era originário de Tabocas que era um quilombo em São Vicente de Férrer. Em seu depoimento Mestre Felipe dá uma visão de geografia antropológica e humana do povoado que fica em uma região onde o tempo quase parou.

Marco Aurélio Haickel, ressalta que o tipo de sotaque praticado pela turma de Mestre Felipe é diferente dos demais tambores de crioula existentes no estado. A preocupação com o fundamento; com a forma de tocar e sua gente fazem a diferença. De acordo com o pesquisador ele não costumava ceder às sugestões ou inovações que viessem tirar as características originais to tambor de crioula. Mas isso não queria dizer que a sua postura quase inflexível impedisse o crescimento da manifestação, muito pelo contrário, pois o que o Mestre Felipe tentava fazer ao seu modo era preservar a originalidade da brincadeira. Marco Aurélio Haickel citou como, por exemplo, a cantoria. "Para Mestre Felipe o cantador tinha que saber rimar e tocar de acordo com a levada do tambor. Tudo isso era muito exigido por ele", ressaltou Marco Aurélio Haickel. O livro Mestre Felipe por ele mesmo foi lançado recentemente na 6ª Feira do Livro de São Luís. O lançamento oficial acontecerá no dia 11 de janeiro de 2013, no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, localizado na Praia Grande.


SOBRE MESTRE FELIPE


Mestre Felipe faleceu aos 84 anos de idade vítima de uma parada cardíaca, em decorrência de um enfisema pulmonar e uma obstrução na uretra. Ele comandou o Tambor de Crioula União de São Benedito - Mestre Felipe, que reúne cerca de 35 integrantes. Mestre Felipe foi sepultado em sua terra natal, São Vicente de Férrer, de acordo como foi pedido por ele.

Em São Luís, organizou grupos de coreiros que são destaques em festejos populares e apresentam-se durante todo o ano nas festas de pagamentos de promessa, de São Benedito, de São João e no Carnaval.Durante duas décadas, trabalhou com o Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão (Laborarte), transmitindo para as novas gerações a arte de tocar tambor por meio de oficinas e, atualmente, era responsável pela formação de percussionistas.

Fonte: Jornal O Imparcial - online
Samartony Martins
Publicação: 18/12/2012


Mestre Felipe era morador da Vila Conceição, a única homenagem feita a ele neste bairro foi a colocação de seu de nome na praça construída pela própria comunidade na entrada da Vila Conceição.

foto: internet
Mestre Felipe será homenageado com lançamento de livro

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