quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

INTOLERÂNCIA - NIGÉRIA DECLARA GUERRA AOS GAYS



Desde que o presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, assinou uma lei que criminaliza a homossexualidade no país, em janeiro, as prisões de gays se multiplicaram, ativistas tiveram que se esconder, os mais assustados foram buscar asilo em outros países e a imprensa começou a pedir mais repressão.

O sexo gay é ilegal na Nigéria desde os tempos coloniais, mas as condenações eram raras no sul e ocasionais no norte de maioria muçulmana ‒, mas a nova lei proíbe o casamento de pessoas do mesmo sexo e vai muito além, condenando a dez anos de prisão aqueles que, "direta ou indiretamente exibirem publicamente relacionamentos gays". E também pune qualquer um que participar de clubes, sociedades e organizações homossexuais ou que as apoiar, gerando muitas críticas internacionais.

O jovem gritava ao ser açoitado no banco do próprio tribunal. O chicote de couro do oficial de justiça estalou vinte vezes e, quando acabou, as costas e o tronco do rapaz estavam cobertos de ferimentos.

Apesar disso, a multidão do lado de fora estava decepcionada, como o juiz bem lembrou; afinal, o castigo para o sexo gay, de acordo com a lei islâmica local, era a morte por apedrejamento.

"Ele deveria ter morrido", disse o juiz, Nuhu Idris Mohammed, orgulhoso da própria tolerância no dia do julgamento, em janeiro, nesse tribunal islâmico. O oficial demonstrou a técnica que usou: chicote no ombro, toda a força para baixo.

A tolerância é zero nessa metrópole nigeriana onde nove pessoas acusadas de serem gays pela polícia islâmica estão cumprindo pena no presídio central. Segundo moradores e policiais, choveram pedras e garrafas na entrada do tribunal; no meio da multidão tinha até quem quisesse incendiar o prédio, disseram testemunhas.

A nova lei, extremamente severa, só serve para piorar uma situação que já é péssima', disse, em nota, a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay.

'Diz que proíbe as cerimônias de casamento de pessoas do mesmo sexo, mas, na realidade, é muito mais que isso. Raras vezes vi uma lei que em poucos parágrafos viola tantos direitos humanos básicos como essa.'

De acordo com a Anistia Internacional, a homossexualidade é ilegal em 38 dos 54 países africanos e resulta em pena de morte na Mauritânia, Sudão, Somália e aqui no norte da Nigéria. O presidente de Uganda seguiu a tendência e também aprovou uma lei que criminaliza os gays e, no Senegal, onde a imprensa geralmente tira os gays do armário, é possível passar cinco anos na prisão por causa de uma relação homossexual.

Os ativistas dizem que muitas prisões já foram feitas em vários estados, mas a situação é especialmente severa no norte. A lei federal promulgada por Jonathan redobrou a vigilância sobre os gays em todo o território nacional, de acordo com as autoridades e moradores de Bauchi, cidade regida pela lei islâmica (charia), onde os policiais Hisbah buscam o que é considerado imoral perante a religião local.
'As comunidades resgataram o interesse na 'limpeza moral'', comenta Dorothy Aken'Ova, diretora executiva do Centro Internacional de Direitos Sexuais e Saúde Reprodutiva da Nigéria, sobre a nova legislação. 'Onde antes era tudo tranquilo, agora as pessoas pensam: 'Quem tem um comportamento meio gay?' Ela faz as pessoas se enrustirem.'

As autoridades de Bauchi dizem querer desmascarar, prender e punir os gays. Os advogados locais têm medo de representá-los. Gays já presos tiveram fiança negada porque era 'no melhor interesse dos acusados', disse o Promotor Dawood Mohammed. Nas ruas, cidadãos furiosos se dizem prontos a assumir a lei com as próprias mãos para combater a homossexualidade.

 

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