segunda-feira, 21 de abril de 2025

LUTO NA IGREJA CATÓLICA: MORRE O PAPA FRANCISCO

Morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco. A informação foi divulgada pelo Vaticano. "Queridos irmãos e irmãs, com profunda tristeza devo anunciar a morte de nosso Santo Padre Francisco. Às 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja", diz o comunicado do Vaticano.

O pontífice se recuperava após um quadro respiratório grave, que o deixou 37 dias no hospital, entre fevereiro e março deste ano. Ontem, no Domingo de Páscoa, o papa fez sua última aparição pública para abençoar milhares de pessoas na Praça de São Pedro, no Vaticano.

Com voz ainda fraca, ele desejou a todos, da sacada, uma "feliz Páscoa" e pediu ao mestre de cerimônias para fazer a leitura de sua tradicional bênção "Urbi et Orbi" ("à cidade e ao mundo") para as cerca de 35 mil pessoas reunidas na Praça São Pedro.

Francisco não participou de nenhum dos ritos da Semana Santa, pois ainda estava em processo de recuperação da pneumonia bilateral, tendo recebido alta em 23 de março, cinco semanas após sua internação.

O papa Francisco deu sinais de problemas de saúde, ao aparecer de cadeira de rodas pela primeira vez em maio de 2022. Ele recorreu ao auxílio após dores intensas no joelho. "Tenho um ligamento rompido, farei algumas infiltrações e vamos ver. Estou assim há algum tempo, não posso caminhar", disse o pontífice, na época.

Dias depois, ele voltou a ser visto sendo empurrado na cadeira de rodas. Após essas primeiras aparições, não era difícil a imprensa internacional noticiar que a saúde do papa estava debilitada.

Em novembro de 2023, o papa cancelou uma viagem para a reunião climática da COP28, em Dubai, por causa de uma gripe e inflamação pulmonar. Em janeiro de 2024, ele não conseguiu terminar um discurso no Vaticano por causa de "um pouco de bronquite", segundo o pontífice.

Em abril de 2024, o papa chamou atenção dos fiéis ao anunciar que já estava "tudo pronto" para a sepultura dele. O pontífice ordenou uma simplificação dos rituais fúnebres dos papas, com os corpos não sendo mais expostos fora dos caixões.

Na ocasião, ele também revelou que, após sua morte, o corpo seria exposto no caixão. Os corpos dos papas anteriores foram colocados em um catafalco, espécie de plataforma, durante seus ritos fúnebres. Ele também pediu para que fosse enterrado na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, fugindo da tradição de um enterro em São Pedro, onde está o corpo de 91 pontífices.

Em fevereiro de 2025, a bronquite do papa voltou à tona. O pontífice não conseguiu terminar um discurso e pediu para que um assistente fizesse a leitura durante uma missa no Vaticano. Dias depois, o papa foi internado para uma cirurgia "complexa", segundo Vaticano.

Dias depois, ele voltou a ser visto sendo empurrado na cadeira de rodas. Após essas primeiras aparições, não era difícil a imprensa internacional noticiar que a saúde do papa estava debilitada.

A causa da morte não foi ainda informada, mas o jornal italiano Corriere della Sera revelou, com base em informações de dentro da Santa Sé, a causa de morte foi um AVC grave.

De acordo com a publicação, o papa acordou às seis da manhã locais (1h00 em Brasília) e estava relativamente bem, após um domingo agitado de rituais e celebrações de Páscoa. Às 7h, porém, teve um mal-estar. Meia hora depois, exatamente às 7h35, foi comunicado seu falecimento.

Como é tradição, o funeral do papa começa na Basílica de São Pedro. O corpo de Jorge Mario Bergoglio, o primeiro pontífice latino-americano da história, ficará exposto para visitação e oração dos fiéis. O funeral termina com a missa de corpo presente, na Praça de São Pedro.

Nomeado em 13 de março de 2013, Jorge Mario Bergoglio foi o 266º papa da Igreja Católica, e isso já foi um fato histórica. Nascido em 17 de dezembro de 1936 em Buenos Aires, ele se tornou o primeiro pontífice nascido e vivido na América do Sul a ocupar o cargo máximo para os católicos. Além disso, era jesuíta, ordem que também pela primeira vez na história tem um dos seus membros indicado para o cargo. O papa tinha formação em química pela Universidad de Buenos Aires.

Visita ao Brasil

O papa Francisco visitou o Brasil pela primeira e única vez em julho de 2013, cerca de quatro meses após ser alçado pontífice. A passagem do líder da Igreja Católica pelo território brasileiro foi marcada por reflexões sobre o contexto da época.

Francisco iniciou sua primeira visita ao Brasil chegando na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, no dia 22 de julho de 2013. Ele foi recebido pela então presidenta Dilma Rousseff, marcando o início de sua participação na Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Além de eventos na capital fluminense, ele também visitou o Santuário de Aparecida do Norte, no interior de São Paulo.

A passagem de Francisco no Brasil foi acompanhada por uma agenda cheia de encontros. Depois da cerimônia de boas-vindas no Palácio Guanabara, onde se encontrou com a presidente Dilma Rousseff e outras autoridades, o papa também participou de outros eventos.

O pontífice visitou a comunidade de Varginha, no Complexo de Manguinhos, onde fez uma oração em uma igreja evangélica da Assembleia de Deus. Ele ainda visitou a casa de uma família local. O papa também inaugurou um centro de atendimento para dependentes químicos no Hospital São Francisco, no bairro da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro.

Em sua mensagem de despedida, ele lembrou do encontro.

“Parto com a alma cheia de recordações felizes, essas, estou certo, que se tornarão oração. Neste momento, já começo a sentir saudades. Saudades do Brasil, deste povo tão grande e de grande coração, deste povo tão amoroso. Saudades do sorriso aberto e sincero que vi em tantas pessoas, saudades do entusiasmo dos voluntários. Saudades da esperança no olhar dos jovens no Hospital São Francisco. Saudades da fé e da alegria em meio à adversidade dos moradores de Varginha”, disse o papa antes de partir para Roma.

A visita ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida incluiu uma missa e bênçãos aos mais de 200 mil fiéis. O papa também se reuniu com religiosos da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e com o Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano).

A praia de Copacabana foi palco de eventos importantes da Jornada Mundial da Juventude, como a encenação da Via Sacra e a Festa da Acolhida, onde o papa Francisco falou aos jovens.

O Riocentro sediou o último encontro do papa Francisco com os voluntários do evento, onde expressou sua gratidão pela colaboração. A Missa de Envio, com aproximadamente três milhões de pessoas em Copacabana, marcou o encerramento da Jornada Mundial da Juventude.

Diálogo com a juventude

Impulsionado pela perda de adesão ao catolicismo do público mais jovem, Francisco tinha como principal destino, no Brasil, participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), evento anual que reúne jovens fiéis.
“A Igreja conta com vocês e o papa conta com vocês”, disse o papa.

Ele conclamou os jovens a serem revolucionários, indo contra a cultura do provisório e buscando a felicidade. Francisco desafiou os jovens a derrubar as barreiras do egoísmo, do ódio e da intolerância.

“Peço que vocês sejam revolucionários, peço para vocês irem contra a corrente, peço que se rebelem contra essa cultura do provisório. Tenho confiança em vocês em irem contra a corrente. Também tenham a coragem de ser felizes”, afirmou Francisco.

Como parte da agenda, o papa almoçou com jovens na sede da Arquidiocese do Rio.

Antes de voltar a Roma, Francisco participou de uma cerimônia de confissões de jovens na Quinta da Boa Vista e de um encontro com presidiários no Palácio São Joaquim.

Manifestações

A viagem ao Brasil também foi marcada por manifestações de grupos que criticavam os gastos públicos na jornada da juventude e defendiam outras pautas, como os direitos da comunidade LGBT e a legalização do aborto.

Um dos protestos foi um “beijaço gay” em frente à Igreja Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado, na zona sul do Rio de Janeiro. O ato iniciou uma série de manifestações diante da presença da autoridade católica.

Em outra manifestação, centenas de pessoas se reuniram na “Marcha das Vadias”, na orla de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. A manifestação aconteceu simultaneamente à vigília dos peregrinos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). As principais reivindicações da marcha incluíam o combate ao preconceito contra homossexuais, o enfrentamento da violência contra mulheres e a legalização do aborto.

Muitos participantes também aproveitaram para criticar a Igreja Católica. A ONG Católicas pelo Direito de Decidir distribuiu uma carta aberta ao papa Francisco solicitando mudanças na Igreja, como a revogação da condenação ao aborto e a bênção para a união de casais do mesmo sexo.

“Viemos apresentar um contra-discurso e demonstrar que a posição do papa e do Vaticano não é a única. Queremos transmitir essa mensagem para que as pessoas [que estão na JMJ] reflitam e se unam a nós”, declarou Kelly de Oliveira, representante da ONG.

O papa Francisco mencionou as manifestações em seus discursos, enfatizando a importância do diálogo construtivo e do respeito à laicidade do Estado. Ele ressaltou que o diálogo é uma alternativa entre a indiferença egoísta e os protestos violentos.

“Entre a indiferença egoísta e os protestos violentos sempre há uma opção possível: o diálogo, o diálogo entre as gerações, o diálogo entre o povo e todos somos povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade. Um país cresce quando suas diversas riquezas culturais dialogam de maneira construtiva”, disse Francisco.

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