O Partido dos trabalhadores (PT), oficializou neste sábado (4), a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à Presidência da República.
O anúncio foi feito pela presidente da legenda, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), durante a convenção nacional do PT, na Liberdade, no Centro de São Paulo. O candidato a vice ainda não foi definido. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reafirmou que este domingo (5) é o prazo final para a escolha dos candidatos por meio das convenções partidárias, incluindo o candidato a vice-presidente.
“Viemos aqui para votar no nosso candidato a presidente, Lula. Esse é um momento histórico. Lula é o nosso candidato a presidente da República”, disse Gleisi.
Em carta lida pelo ator Sérgio Mamberti, Lula diz que é a primeira vez em 38 anos que não participa de uma convenção nacional do partido. "Mas sei que estou presente em cada um de vocês", disse.
Lula não participou da convenção porque está preso desde o começo de abril, condenado em segunda instância no caso do triplex em Guarujá, a doze anos e um mês de prisão, o que, de acordo com a Lei da Ficha Limpa, o torna inelegível. A questão precisa ser decidida pelo TSE e só deve ser julgada depois do registro oficial, que ocorre até o dia 15 de agosto.
PT oficializa candidatura de Lula e não indica nome para vice (Foto: GloboNews/reprodução) |
Participaram do evento lideranças do PT, como a ex-presidente Dilma Rousseff, o candidato ao governo de São Paulo pelo partido, Luiz Marinho, o ex-ministro Celso Amorim, o ex-prefeito da capital paulista Fernando Haddad, o senador Lindbergh Farias, entre outros.
Movimentos sociais e entidades sindicais também marcaram presença, como o MST, o MTST, CUT, Central dos Movimentos Populares, UNE, entre outros.
Em um momento da convenção, todas as pessoas presentes colocaram uma máscara com o rosto do ex-presidente Lula e gritaram em coro: "Eu sou Lula".
As falas das lideranças políticas do PT começaram com o deputado Paulo Pimenta, líder da legenda na Câmara:
“O Brasil nunca precisou tanto do Lula. (...) O que está em jogo é muito mais que uma eleição presidencial. Não tem plano B, não tem plano C. É Lula livre, candidato e presidente”.
O senador Lindbergh Farias afirmou que "está surgindo um outro PT. Tem que ter um outro programa, mais ousado”. Ele defendeu reforma política, dos meios de comunicação, união da esquerda, novas alianças.
“Se eles impugnarem a eleição do Lula, a gente vai até o fim", completou.
O ex-prefeito Haddad e coordenador da campanha de Lula afirmou não ter dúvidas "de que o cenário está configurado. Eles imaginavam que o Lula nao teria prestígio”. “O povo conhece o Lula. E o que nos temos pela frente é uma batalha decisiva.”
Propostas
Entre as propostas apresentadas pelo plano de governo estão:
Promover ampla reforma política com participação popular;
Promover a reforma do Poder Judiciário e do Sistema de Justiça;
Recriar como ministério com status de ministério, as pastas de Direitos Humanos, Políticas para as Mulheres e para Promoção da Igualdade Racial;
Promover políticas para as mulheres e de igualdade racial;
Criar plano emergencial de emprego, recuperação da renda e do crédito.
Trajetória de Lula
Ex-sindicalista e metalúrgico, Lula iniciou sua trajetória como líder político durante o regime militar. Presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos e, em 1980, ao lado de outros líderes, fundou o Partido dos Trabalhadores.
Principal líder da esquerda brasileira, também ajudou a fundar a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e participou do movimento "Diretas Já".
Antes de se eleger presidente, foi derrotado nas eleições de 1989, 1994 e 1998 (por Fernando Collor em 1989 e por FHC em 1994 e 1998).
Em 2002, foi eleito presidente da República com o maior número de votos obtidos por um político até então (mais de 52,4 milhões de votos).
Reelegeu-se em 2006 e, ao deixar a Presidência, com 87% de aprovação, um dos maiores índices de um presidente. A popularidade o ajudou a fazer a sucessora, a ex-presidente Dilma Rousseff, em 2010.
Carta de Lula na íntegra
“Companheiras e companheiros. Esta é a primeira vez em 38 anos que eu não participo pessoalmente de um encontro nacional do nosso partido. Mas sei que estou presente dentro de cada um de vocês, de cada dirigente, delegado e militante do PT.
Ao longo desses 38 anos nós construímos a mais importante força política que esse país já conheceu. Porque nascemos nas bases da classe trabalhadora da cidade e do campo lutando pela democracia e nunca, nunca mesmo, nos afastamos do povo.
Chegamos ao governo pelo voto e foi um longo aprendizado para transformar o Brasil. E transformamos.
E vencemos a miséria e a fome. E levamos água para quem sofria com a seca e luz elétrica para quem vivia nas trevas.
Levamos as crianças para a escola, e os jovens, negros, pobres e indígenas para a universidade. São coisas que parecem simples em qualquer país civilizado, mas que representaram uma enorme diferença para a nossa gente sofrida.
Isso só foi possível porque sempre colocamos os trabalhadores e os mais pobres no centro das atenções do governo.
Criamos um dos maiores e melhores programas de transferência de renda do mundo, o Bolsa Família.
Aumentamos o valor real do salário mínimo. Levamos o crédito aos trabalhadores, os aposentados e para a agricultura familiar.
Criamos 20 milhões de empregos. Dos muitos governos anteriores ao nosso a imensa maioria da população foi tratada como se fosse um problema, nós tratamos a nossa gente como solução. E por isso o Brasil mudou. Provamos que é possível fazer diferente e melhor do que fizeram antes.
Hoje o nosso povo está sofrendo, a fome voltou a rondar os lares e muitos nem tem mais um lar, estão vivendo nas ruas, tornaram-se mendigos junto com os filhos.
Milhões de trabalhadores desistiram de procurar emprego porque não há. Milhões foram excluídos do Bolsa Família.
As universidades e os hospitais vivem a sua maior crise.
Hoje nosso país está sendo vendido. A nossa Petrobras, o nosso pré-sal, a Eletrobrás, os bancos públicos, todos na fila para serem entregues a preço de banana aos grandes grupos estrangeiros como já fizeram com a Embraer.
Nossa política externa voltou a ser ditada pelo Departamento de Estado Norte-Americano.
Hoje a nossa democracia está ameaçada. Há dois anos deram um golpe parlamentar para destituir a presidenta Dilma Rousseff rasgando a Constituição.
Agora querem fazer uma eleição presidencial de cartas marcadas. Excluir um nome que está à frente na preferência do eleitorado em todas as pesquisas. Já derrubaram uma presidenta eleita. Agora querem vetar o direito do povo de escolher livremente o próximo presidente.
Querem inventar uma democracia sem o povo.
Esse encontro nacional do PT que nós estamos aqui hoje realizando talvez seja um dos mais importantes em toda a história do nosso partido. É enorme a responsabilidade que temos pela frente na decisão que vai nos conduzir a uma luta sem tréguas pela democracia pelo povo brasileiro e pelo Brasil.
E a vitória vai depender do empenho de cada um de nós. Gostaria de estar aí para abraçar cada companheira e cada companheiro, para agradecer por toda a solidariedade e principalmente por manterem aceso o espírito do PT, mesmo nas circunstâncias mais difíceis.
Onde me encontro estou sempre renovando minha fé de que um dia o nosso reencontro virá pela vontade do povo brasileiro. Viva o Brasil! Viva o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras!
Um abraço do Lula.”
Fonte: G1
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